terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Pudim

Hoje cedo acordei e a primeira coisa que li foi o poema abaixo. Ficamos tão presas a dieta, magreza, sociedade cobrando, amigos cobrando...aff, essa é a pior parte, que não nos damos conta que se talvez relaxássemos daríamos conta da nossa vida saudável de SER. 

PUDIM



Por Marta Medeiros 


Não há nada que me deixe mais frustrada 
do que pedir Pudim de sobremesa, 
contar os minutos até ele chegar 
e aí ver o garçom colocar na minha frente 
um pedacinho minúsculo do meu pudim preferido. 
Um só. 



Quanto mais sofisticado o restaurante, 
menor a porção da sobremesa. 
Aí a vontade que dá é de passar numa loja de conveniência, 
comprar um pudim bem cremoso 
e saborear em casa com direito a repetir quantas 
vezes a gente quiser, 
sem pensar em calorias, boas maneiras ou moderação.. 



O PUDIM é só um exemplo do que tem sido nosso cotidiano. 



A vida anda cheia de meias porções, 
de prazeres meia-boca, 
de aventuras pela metade. 
A gente sai pra jantar, mas come pouco. 



Vai à festa de casamento, mas resiste aos bombons. 



Conquista a chamada liberdade sexual, 
mas tem que fingir que é difícil 
(a imensa maioria das mulheres 
continua com pavor de ser rotulada de 'fácil'). 



Adora tomar um banho demorado, 
mas se contém pra não desperdiçar os recursos do planeta. 



Quer beijar aquele cara 20 anos mais novo, 
mas tem medo de fazer papel ridículo. 



Tem vontade de ficar em casa vendo um DVD, 
esparramada no sofá, 
mas se obriga a ir malhar. 
E por aí vai. 



Tantos deveres, tanta preocupação em 'acertar', 
tanto empenho em passar na vida sem pegar recuperação... 



Aí a vida vai ficando sem tempero, 
politicamente correta 
e existencialmente sem-graça, 
enquanto a gente vai ficando melancolicamente 
sem tesão..... 



Às vezes dá vontade de fazer tudo 'errado'. 
Deixar de lado a régua, 
o compasso, 
a bússola, 
a balança 
e os 10 mandamentos. 



Ser ridícula, inadequada, incoerente 
e não estar nem aí pro que dizem e o que pensam a nosso respeito. 
Recusar prazeres incompletos e meias porções. 



Até Santo Agostinho, que foi santo, uma vez se rebelou 
e disse uma frase mais ou menos assim: 
'Deus, dai-me continência e castidade, mas não agora'.. 



Nós, que não aspiramos à santidade e estamos aqui de passagem, 
podemos (devemos?) desejar 
vários pedaços de pudim, 
bombons de muitos sabores, 
vários beijos bem dados, 
a água batendo sem pressa no corpo, 
o coração saciado. 



Um dia a gente cria juízo. 
Um dia. 
Não tem que ser agora. 



Por isso, garçom, por favor, me traga: 
um pudim inteiro 
um sofá pra eu ver 10 episódios do 'Law and Order', 
uma caixa de trufas bem macias 
e o Malvino Salvador, nu, embrulhado pra presente. 
OK? 
Não necessariamente nessa ordem. 



Depois a gente vê como é que faz pra consertar o estrago . . .

5 comentários:

  1. Que delicia de texto !!!
    Divertido e reflexivo no tom certo !!
    Amei!!

    Beijos ") @Nanazudah
    http://meninacajuina.blogspot.com/
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  2. Gostei..um dia a gente cria juizo mas não tem que ser agora...

    Naty ♥
    http://ninguemtasca.blogspot.com/

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  3. ADOREI!
    Tudo isso que vc disse, amiga, acho q posso chama-la assim, rs. é verdade!O importante é ser feliz...e se for necessário um pudim inteiro que assim seja! Estou te seguindo! Bj
    Cris

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  4. rs...esse texto é mais um lindo da Martha que escreve muito bem e dá gosto ler...beijos,tudo de bom e um dia lindo!chica

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  5. Ei Kekel, esse seu blog é lindo também. Parabéns!!!!!!!!! E por falar nisso adoro Marta Medeiros. Penso que devemos nos permitir mais. É isso aí. Bjoss!!!!!!!

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